Autor(es): Por Caio Junqueira | De Brasília |
Valor Econômico - 03/02/2012 |
Diante de mais um iminente racha na bancada do PT na Câmara dos Deputados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu interferir na disputa em busca de um acordo entre os deputados José Guimarães (CE) e Jilmar Tatto (SP). Ele deslocou um dos seus principais interlocutores, o prefeito de São Bernardo do Campo (ABC paulista), Luiz Marinho (PT), para disparar telefonemas a deputados para que viabilizem o acordo no qual Tatto seria o líder neste ano e Guimarães em 2013. Deputados da legenda confirmaram ao Valor terem recebido as ligações do prefeito com essa orientação, sob a justificativa de que a vitória de Guimarães daria aos adversários nas eleições municipais deste ano mais argumentos contra o maior trauma dos petistas, a crise do mensalão. No auge do escândalo em 2005, o então assessor parlamentar de Guimarães, José Adalberto Vieira da Silva, foi detido no aeroporto de Congonhas em São Paulo com R$ 200 mil em uma valise e mais US$ 100 mil em sua cueca. Marinho relatou aos deputados que, ainda que não tenha tido envolvimento direto de Guimarães no episódio, sua indicação como líder neste ano eleitoral inevitavelmente traria o episódio à tona e serviria de importante arma contra o PT. Principalmente em São Paulo, a eleição prioritária para a legenda. O grupo de Guimarães, porém, coordenado pelo líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP); pelo secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR); e pelo ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP); segue adiante na disputa e garante ter a maioria dos votos no mapeamento da bancada. Mais do que isso, confirmam que Marinho tem articulado para fazer de Tatto o líder. Mas rejeitam a tese de que ele faz isso a pedido de Lula. Dizem que o mais próximo deputado do ex-presidente, Devanir Ribeiro (SP), perguntou ao ex-presidente ainda nesta semana seu posicionamento sobre a questão. Ele teria respondido que não se envolveria. Devanir nega que esse diálogo tenha ocorrido. Por essa razão, o grupo de Guimarães avalia haver dois motivos que moveriam Marinho nessa estratégia. Primeiro, retribuir a Tatto a retirada de sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo. Segundo, garantir na manobra apoio para sua eventual candidatura ao governo do Estado de São Paulo em 2014. Assim, dizem que só recuam da candidatura se o próprio Lula pedir a Guimarães que desista. Interlocutores de Marinho no ABC paulista dizem que isso será feito nos próximos dias. Até lá, a disputa segue e reacende, com os mesmos personagens, embates recentes na bancada. Como o que escolheu Marco Maia (RS) candidato do partido a presidente da Câmara, contra Cândido Vaccarezza. Ali, Maia obteve apoio dos mesmos que agora operam para Tatto: o vice-líder do governo, Odair Cunha (MG); o ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e o ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). Na ocasião, o atual líder da bancada, Paulo Teixeira (SP), esteve com esse grupo tanto como agora. A diferença é que tem agido com mais discrição para evitar que tudo seja resolvido no voto. É dele, por exemplo, a ideia de um "acordão" que envolva 12 cargos na bancada referentes a 2012 e 2013. Seriam definidos o líder da bancada, os três presidentes das comissões temáticas, o presidente ou relator da Comissão Mista de Orçamento, e os dois cargos a que o partido terá direito na próxima eleição da Mesa. No entanto, a ideia tem custado a emplacar, pois acredita-se que ela faz com que o próximo líder perderia poder de atuação, uma vez que todos os cargos estariam definidos. Em especial, os da Mesa, cujas negociações são consideradas o grande atrativo para exercer a liderança neste ano. O novo líder terá de ser um hábil negociador com todas as outras bancadas. Outra vantagem é que terá espaço para opinar não apenas sobre as disputas no Congresso, limitadas pelo calendário eleitoral, mas também sobre a política nacional, que tende a dominar a agenda do país durante o processo eleitoral. |
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Lula escala Marinho para evitar racha na Câmara
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